Fui criado numa casa de amantes de futebol, uma casa em que se vive o futebol. Para me integrar numa casa e num grupo social que considero “meus” tive de passar por uma linda e maravilhosa viagem, a de aprender a jogar futebol…

Tinha 5 anos quando o meu pai me levou ao campo do Pinhal do General. Naquela altura o campo era “explorado” por um senhor chamado António Pica. Lembro-me muito bem do seu bigode branco que denunciava a sua idade e da sua estatura baixa e atarracada, bem como de uma frase que me marcou a vida: “ É o pé que procura a bola, não o contrário”. Recordo-me também de o meu irmão me dar a indicação para eu entrar, e eu, pequeno e à descoberta de um admirável mundo novo, não hesitei e entrei no campo. Aquela ação marcou toda a minha vida e o mais estranho é que quando a fiz não reparei. Os meus olhos maravilhados estavam preocupados com outra coisa: é que, à minha frente, estava um amarelo e poeirento campo de futebol de areia. A minha então pequena pessoa olhava maravilhada para o palco de muitas emoções e estava feliz, sim, feliz, porque tinha o que mais gostava: uma bola, um campo onde jogar e outras pessoas para jogar. Estava feliz porque nunca precisei de muito; na altura só precisava de uma coisa: aquele campo. Aquele areal iria fazer-me feliz, triste, e feliz outra vez. Iria cravar pedras no meu joelho, iria causar-me feridas no joelho que iriam desesperar a minha mãe, iria fazer-me marcar golos, sofrê-los, iria fazer-me ganhar jogos, perdê-los, iria fazer-me feliz. Aquelas feridas, aquela cal que voava com o vento e aquelas balizas faziam-me ter vontade de voltar no dia seguinte, na semana seguinte, ou no mês seguinte. Iriam fazer-me voltar.

Irá haver um dia em que irei olhar para aquele campo, para aquelas pedras, para aquelas balizas, para aquele portão, e será a última vez que o farei. Aí, irei pensar em todos os momentos que passei naquele campo e irei sorrir, com saudade de tempos passados. Tempos em que a minha vida estava um caos, tempos em que entrava no campo para treinar e aquela preocupação, aquele teste com uma nota menos boa, aquela discussão com a mãe ficavam à porta. À porta daquele insignificante portão ficavam as preocupações, como se houvesse um cartaz naquele mítico portão que dizia “maus pensamentos não permitidos, campo apenas para jogar à bola”. E resultava, porque, quando saía do treino, a voz da minha mãe ecoava no interior da minha mente porque ela é que tinha razão e o meu remorso crescia, porque tinha de estudar mais da próxima vez. Mas eu era feliz.

Sempre ouvi as pessoas olharem com desprezo para aquele campo, e, confesso, sempre que o ouvi, nunca as compreendi; eram pessoas que olhavam para algo com os olhos e não com o coração. Afinal, a cada pedaço daquele pequeno campo está agarrada uma história, uma memória, uma emoção. É o meu campo…

José Barata, 9ºC

Novembro de 2014

(Disciplina de Português da Prof.ª Luísa Rebeca Bixirão)